terça-feira, 10 de agosto de 2010

O Vivo está Morto...

O vivo está vivo!. Os sons antes calados, aos poucos tomam corpo, tal como o corpo, antes inerte, na tábua áspera e seca. O corpo do vivo, aparentemente morto, fala em balbúcios insondáveis palavras mortas, deixando-as perder-se nos ouvidos surdos dos corpos estáticos e aprumados, que se ocupam a lhe perscrutar com soslaios ávidos pelo inesperado. O silêncio persiste na paisagem sonora da alcova, deixando o espaço sobrecarregado pela neblina de sensibilidade, inquietando as cabeças recostadas ao estofado das cadeiras nos cantos da alcova.
O corpo geme devagarinho ao mover-se, deixando os olhos dos fantasmas lhe percorrerem com assombro e angustia, os músculos de sua boca se movimentam, formando uma meia lua com apenas um chifre, comunicando ao cognitivo dos corpos sua aparente saúde frágil, mas viva. Compreendendo de imediato que não funcionava, solta balbúcios, palavras mortas, dando a entender que o vivo ainda vive.
A porta fechada se abre bruscamente, deixando as lágrimas se retirarem em silêncio e profunda angustia, sendo seguida por um coração apertado e indeciso, confuso e ambos saem a ficarem consolando-se um ao outro. Do lado de dentro as mãos frias, gélidas se arranham e se cruzam pensativas acerca dos fatos, a observar a cabeça prostada no encosto da cadeira, com aspecto de transe, de inconsciência, com profundas meditações.
O vivo volta a se remexer soltando um suspiro profundo e sofrido, recostando a cabeça um pouco mais alta no espumado traveseiro em fronhas brancas e com os olhos lacrimejantes, pálidos tenta balbuciar uma palavra sem comunicação, tornando-se inquieto e com aspecto irritadiço. Os pés chorosos voltam para o cenário da alcova defrontando-se com o olhar desesperado das mãos e da cabeça angustiados com a imagem desolada, logo os ombros decaídos, antes confusos, também penetram no átrio da dor, cuja cor amarela vai deixando latente os aspecto apático do grupo de deslocados, a persistirem com a vigilia, mesmo com findas esperanças de fortuna.
O vivo observando todos os soslaios a lhe perscrutar, ora angustiados, ora constrangidos em lhe observar com tamanha confição de desesperança, recosta a cabeça para atrás em uma fadiga pulmonar inconsolável, lhe retirando os ultimos fios de estabilidade, compreendendo logo os desespero dos corpos, dos olhos dos fantasmas, e com findar da percepção observa os pés se retirarem da alcova, para logo em passos rápidos o retrocesso de mais pés. Estes lhe metem um plástico na boca a soltar fumaça, e aos poucos seu torax vai acalmando, os corpos vão se aquietando, talves principalmente pela presença dos anjos brancos de cabeça aos pés.
Ao retornar um pouco da persepção, o vivo percebe que os corpos vão se retirando permanecendo somente dois anjos ao seu lado, lhe observando profundamente. todos os pés retirados da alcova, angustiados e com fiozinho de desespero, tendo o peito apertado, inconsoláveis, parecendo que o espaço lhes comprimiam, se assentam no banquinho vernizado com um estofado fino, permitindo que a dureza da madeira lhes fossem percebida. Estes com as cabeças prostadas sobre as mãos sentem-se frígios e atônitos, impacientes.
Os anjos sensibilizados pelas neblinas da dor vão se encolhendo, se envolvendo com a própria dor e quando não dá mais, investigaram o vivo prostado na barca. Ao consultarem, perceberam suspiros levianos bofejados por um ar quente, dando-lhes o entusiasmo da melhora. Ao sairem da alcova para consolarem os corpos, o relógio da vida cessa e suas passadas verdes na tela tornão-se lineares, e o alarme da morte soa, retroscedem rapidamente junto ao corpo e com ferros a soltarem filetes de raios vão tentando reanimar o coração letárgico, mórbido e por algum tempo fios de esperança lhes povoa o peito, ao ponto de soltarem sonoras e sussurradas palavras -Vamos lá, vamos lá rapaz! -. E em vão tentaram recobrar a vida já ceifada pelo ceifero, lhes restando a imagem impassível do corpo sem vida.
O vivo expira, indo a navegar no rio sobre a barca. Os vivos deslocados e impassíveis, em prantos desesperados, ora agudos e estridentes, ora passíveis e miudos, vão acomodando a dor no coração comprimido e deslocado.

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