domingo, 22 de agosto de 2010

Elhise

De saltos largos e de arremessos precisos, ela faz pontos.

Balança a camisa e demostra força.

Que jogo bom.

Eu, só na arquibancada, vibrando com cada ponto.

Eu gostei de tudo.

Gostei de vê-la jogando.

E gostei do sorriso da sua vitória.


Daniel

sábado, 21 de agosto de 2010

Mestre Carreiro

Ôooooooooooooooooooooooooooo boiiii! Aaaaaaaaanda! ôooopa!
O mestre vai levando o carro pelas pirambeiras, o candieiro solitário vai à frente, entre grotões e as saudades. Longe num galho tortuoso e cascudo, sisudo donde uma orquídea brota graciosa e "unicolor", é única no sertão. Ouve somente o canto do pinhé escondido no bingueiro distante, clamando a solidão e a saudade, na conformidade do seu canto:
Pois é! Pois é! Pois é!
O passo no sertão é marcado pelos passos do boi, que vagaroso segue o canto do pinhé. O mestre exclama,
'Menino, saí daí! oia o desbanrancaaaado sô'. O compasso dos bois aumenta.
Sombração!
Num só prumo o caboclinho pula o grotão para a outra margem, fugindo do compasso marcado até então, não valsa, catira os pés no chão.
' Uê ! que lá foi isso padim, Deus que nos cuide!'.
O grotão nascente e misterioso engole o carro e os bois, o mestre desaba no chão seco e pardo, sendo tragado pela poeira vermelha, com os olhos sem vida não percebe a carreira de desgraças que tragou parte de seu corpo, de sua consciência de sua alma, os bois e o carro.
O candieiro prostado no chão, vê somente as cangas e o par de rodas despedaçados e lascas de madeiras cravadas no coro mestiço dos bois turbados no chão.
'Se tá vivo padim!?'. Em meia à poeira vermelha o menino tenta reanimar o mestre desacordo pela queda brusaca no chão, ouve-se somente uma lamuria solitária,
' Carma, o sol ainda 'tá crescente, o eixo já 'tá pronto e a junta de boi já 'tá trenada'
Assim o Mestre Carreiro segue a toada a tocar a vida no ermo, no sertão.


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Demora

Casa na Roça - Bianca Gens

Fim do dia, e nem sinal da minha flor.
E nem de longe tem sinal.
Por causa de que da demora.
Em que hora vou abraça minha senhora.
Por onde anda minha flor.
Por onde anda o meu amor.
Cabou a demora.
Lá de longe no horizonte quem acaba de chegar.
Não.
Não é ela.
Veio uma carta que mandou pra mim.
chama a professora, chama sem demora.
Chama a professora pra ler a palavra da minha senhora.

Daniel

domingo, 15 de agosto de 2010

Sombra



O dia amanheceu, e o destino aqui me trouxe.
Que bom pudesse arrancar de meus pensamentos,
e sepultar a saudade em noite de esquecimento.
A minha sombra não deixa, pois ela é igual a sombra do meu corpo.
Pelos caminhos da vida, ela sempre está presente.

Daniel

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Eu sei...

eu sei...
Foto de Miriam Galdino - EU SEI...



“...eu comprei uma casinha tão modesta
eu sei, você não liga pra essas coisas
te darei toda a riqueza de uma vida
o meu amor...”

Isabella Taviani

O Vivo está Morto...

O vivo está vivo!. Os sons antes calados, aos poucos tomam corpo, tal como o corpo, antes inerte, na tábua áspera e seca. O corpo do vivo, aparentemente morto, fala em balbúcios insondáveis palavras mortas, deixando-as perder-se nos ouvidos surdos dos corpos estáticos e aprumados, que se ocupam a lhe perscrutar com soslaios ávidos pelo inesperado. O silêncio persiste na paisagem sonora da alcova, deixando o espaço sobrecarregado pela neblina de sensibilidade, inquietando as cabeças recostadas ao estofado das cadeiras nos cantos da alcova.
O corpo geme devagarinho ao mover-se, deixando os olhos dos fantasmas lhe percorrerem com assombro e angustia, os músculos de sua boca se movimentam, formando uma meia lua com apenas um chifre, comunicando ao cognitivo dos corpos sua aparente saúde frágil, mas viva. Compreendendo de imediato que não funcionava, solta balbúcios, palavras mortas, dando a entender que o vivo ainda vive.
A porta fechada se abre bruscamente, deixando as lágrimas se retirarem em silêncio e profunda angustia, sendo seguida por um coração apertado e indeciso, confuso e ambos saem a ficarem consolando-se um ao outro. Do lado de dentro as mãos frias, gélidas se arranham e se cruzam pensativas acerca dos fatos, a observar a cabeça prostada no encosto da cadeira, com aspecto de transe, de inconsciência, com profundas meditações.
O vivo volta a se remexer soltando um suspiro profundo e sofrido, recostando a cabeça um pouco mais alta no espumado traveseiro em fronhas brancas e com os olhos lacrimejantes, pálidos tenta balbuciar uma palavra sem comunicação, tornando-se inquieto e com aspecto irritadiço. Os pés chorosos voltam para o cenário da alcova defrontando-se com o olhar desesperado das mãos e da cabeça angustiados com a imagem desolada, logo os ombros decaídos, antes confusos, também penetram no átrio da dor, cuja cor amarela vai deixando latente os aspecto apático do grupo de deslocados, a persistirem com a vigilia, mesmo com findas esperanças de fortuna.
O vivo observando todos os soslaios a lhe perscrutar, ora angustiados, ora constrangidos em lhe observar com tamanha confição de desesperança, recosta a cabeça para atrás em uma fadiga pulmonar inconsolável, lhe retirando os ultimos fios de estabilidade, compreendendo logo os desespero dos corpos, dos olhos dos fantasmas, e com findar da percepção observa os pés se retirarem da alcova, para logo em passos rápidos o retrocesso de mais pés. Estes lhe metem um plástico na boca a soltar fumaça, e aos poucos seu torax vai acalmando, os corpos vão se aquietando, talves principalmente pela presença dos anjos brancos de cabeça aos pés.
Ao retornar um pouco da persepção, o vivo percebe que os corpos vão se retirando permanecendo somente dois anjos ao seu lado, lhe observando profundamente. todos os pés retirados da alcova, angustiados e com fiozinho de desespero, tendo o peito apertado, inconsoláveis, parecendo que o espaço lhes comprimiam, se assentam no banquinho vernizado com um estofado fino, permitindo que a dureza da madeira lhes fossem percebida. Estes com as cabeças prostadas sobre as mãos sentem-se frígios e atônitos, impacientes.
Os anjos sensibilizados pelas neblinas da dor vão se encolhendo, se envolvendo com a própria dor e quando não dá mais, investigaram o vivo prostado na barca. Ao consultarem, perceberam suspiros levianos bofejados por um ar quente, dando-lhes o entusiasmo da melhora. Ao sairem da alcova para consolarem os corpos, o relógio da vida cessa e suas passadas verdes na tela tornão-se lineares, e o alarme da morte soa, retroscedem rapidamente junto ao corpo e com ferros a soltarem filetes de raios vão tentando reanimar o coração letárgico, mórbido e por algum tempo fios de esperança lhes povoa o peito, ao ponto de soltarem sonoras e sussurradas palavras -Vamos lá, vamos lá rapaz! -. E em vão tentaram recobrar a vida já ceifada pelo ceifero, lhes restando a imagem impassível do corpo sem vida.
O vivo expira, indo a navegar no rio sobre a barca. Os vivos deslocados e impassíveis, em prantos desesperados, ora agudos e estridentes, ora passíveis e miudos, vão acomodando a dor no coração comprimido e deslocado.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Chão

Cheirinho de roça...

Cheirinho de roça - Ramon Assis

Corto minhas folhas para a prosa surgir no fim do dia.
E dali fico, prosa em prosa vivendo pra ser feliz.
Converso com as nuvens.
Converso com as estrelas.
Namoro com a Lua.
E no dia seguinte, o sol aparece, e lá vou mexer com a roça.

Daniel