sábado, 21 de agosto de 2010

Mestre Carreiro

Ôooooooooooooooooooooooooooo boiiii! Aaaaaaaaanda! ôooopa!
O mestre vai levando o carro pelas pirambeiras, o candieiro solitário vai à frente, entre grotões e as saudades. Longe num galho tortuoso e cascudo, sisudo donde uma orquídea brota graciosa e "unicolor", é única no sertão. Ouve somente o canto do pinhé escondido no bingueiro distante, clamando a solidão e a saudade, na conformidade do seu canto:
Pois é! Pois é! Pois é!
O passo no sertão é marcado pelos passos do boi, que vagaroso segue o canto do pinhé. O mestre exclama,
'Menino, saí daí! oia o desbanrancaaaado sô'. O compasso dos bois aumenta.
Sombração!
Num só prumo o caboclinho pula o grotão para a outra margem, fugindo do compasso marcado até então, não valsa, catira os pés no chão.
' Uê ! que lá foi isso padim, Deus que nos cuide!'.
O grotão nascente e misterioso engole o carro e os bois, o mestre desaba no chão seco e pardo, sendo tragado pela poeira vermelha, com os olhos sem vida não percebe a carreira de desgraças que tragou parte de seu corpo, de sua consciência de sua alma, os bois e o carro.
O candieiro prostado no chão, vê somente as cangas e o par de rodas despedaçados e lascas de madeiras cravadas no coro mestiço dos bois turbados no chão.
'Se tá vivo padim!?'. Em meia à poeira vermelha o menino tenta reanimar o mestre desacordo pela queda brusaca no chão, ouve-se somente uma lamuria solitária,
' Carma, o sol ainda 'tá crescente, o eixo já 'tá pronto e a junta de boi já 'tá trenada'
Assim o Mestre Carreiro segue a toada a tocar a vida no ermo, no sertão.


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